8 de setembro de 2011



Não sei se essa coluna tem introdução mas tá valendo. O conto de hoje foi escrito pela nossa leitora Arantxa, que é amor demais e mandou ele pra gente. Se você também curte escrever, mande seu texto para o nosso email que teremos prazer em publicá-lo.
Pois bem, vamo lá. Senta que lá vem história. E das boas.


"Às vezes eu brinco de ficar invisível. Um olhar sustentado por um milésimo de segundo, e então me desvio como que de uma bala certeira; e tanto eu quanto o outro continuamos a rota original. É um jogo, uma espécie de brincadeira de mau-gosto. É um atentado a esta dimensão. Na quebra da linha tênue que une o olhar desfazem-se as linhas e os preenchimentos, as nuances. Somem as cores e eu vou ficando transparente, transparente, até desaparecer; ou talvez adquira a cor do ambiente, veja bem, pois é assim que as coisas costumam ser.
Já não faço tentativas, pois sou perita. E já não me deixo enganar por uma linha do tempo recheada de sabores e cheiros que me fazem lembrar, pois o poder é mais forte — desvio o olhar e fico invisível. Invisível. Indiferente. Continuo meu caminho como eu mesma, alguém que não precisa de poeira estelar orbitando ao redor de si.
Às vezes eu me olho no espelho e me encontro invisível. Sustento o olhar por um milésimo de segundo.

Um milésimo de segundo.

Um milésimo.

Um.

(O efeito colateral é a tristeza.)"

Por Arantxa Carolina

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