Tudo começou há um tempo atrás na ilha do sol alguns anos atrás, quando a primeira pessoa me disse que não entendia o sucesso dos Beatles. “As músicas deles nem são tão boas assim”, me falaram. “Não entendo porquê ainda ficam lembrando deles, quando muita coisa já evoluiu! Tão ultrapassados!”.
Aquilo, amigos, me doeu no fundo da alma. Eu guardei esse rancor até hoje. Ao longo da minha breve vida (vamo fingir que eu to nova ainda, galerinha), outras pessoas me falaram coisas semelhantes - de um jeito menos pedante, né - e eu nunca discordei ou levantei a voz. Especialmente porque é claro, óbvio e evidente que existem pessoas que não gostam de Beatles - o que é absolutamente aceitável e ninguém tem nada com isso, ora bolas, cada um com a sua opinião.
Daí, outra coisa é quando inferem que Beatles não merecem o lugar que eles conquistaram na cultura popular.
Hoje, gente linda, reuni todo meu arsenal para exemplificar porquê, afinal de contas, essa banda foi e é tão marcante. Pelamordedeus, por que ninguém parou de citar ou lembrar dela até hoje, mais de 40 anos depois que John, Paul, George e Ringo se separaram de vez? Esse post é pra fã, não-fã e até simplesmente pra quem não tá nem aí pra banda e só atrás de ler algumas curiosidades.
estrelando: Euzinha como Rafiki
Com vocês,
10 Motivos Para Entender Porque Beatles Não É Só Música - ou The Ultimate Answer™ To “Caceta, por que ainda batem na tecla dessa banda até hoje?”
1) Eles foram pioneiros
Não, Beatles não inventou o rock'n'roll (nem o Elvis, viu?). Mas inovou em uma porrada de coisas musicais. Foi a primeira banda a usar feedback (na “I Feel Fine”, de 1964); os álbuns Rubber Soul e Revolver viram inovações desde o uso de cítara a tape loops; tem backward vocals em “Rain”; um sintetizador Moog em várias músicas do clássico Abbey Road; sem contar alguns acordes considerados revolucionários por vários críticos, como o de início de “A Hard Day's Night”.
Mesmo que todas estas coisas estejam banalizadas ou óbvias hoje em dia, pequenos padawans, é sim um big fucking deal ser os primeiros a experimentar isso.
georginho tá aqui de boa tocando uma cítara e dá pra ver na cara dele o quanto ele se importa com a opinião alheia
2) As técnicas de gravação não foram mais as mesmas depois deles
A gente querendo ou não, os rapazotes dos Beatles revolucionaram o ato de gravar música, usando várias faixas ao invés de tocar ao vivo. O produtor lendário deles, George Martin (não, não é aquele que mata todos os personagens que a gente se importa em Game Of Thrones), usou várias faixas diferentes para aumentar a amplitude da voz do John Lennon em “Tomorrow Never Knows”, e fez a mesma coisa, só que dessa vez pra voz parecer mais lenta, em “Strawberry Fields Forever”. Trazer músicos de instrumentos de cordas (para músicas como “Yesterday”) também foi uma novidade, além de técnicas meio heterodoxas. Tipo o Sir McCartney, que foi tocar bumbos no meio de um corredor pra conseguir o efeito sonoro (que é conhecido como staccato) na música “Mother Nature's Son”.
note que paul sempre foi uma pessoa bem sã
3) Eles são usados como referências até em cortes de cabelo e peças de vestuário
Eu ainda vou voltar a falar de influências que os Beatles deixaram nos próóóóximos tópicos, mas vou reservar esse para referências específicas e deixar as coisas menos "banais" pra depois.
Mas pois é, filhote: Beatles é associado a uma porrada de coisa, incluindo:
Corte de cabelo
Um beijo pro Oasis
Roupas
Especialmente o corte dos ternos que eles usavam ficaram associados à imagem deles. A jaqueta da imagem acima, usada por Lennon na capa do álbum Rubber Soul, também ficou conhecida e é chamada de “Rubber Soul jacket”.
Sapatos
As botas acima são chamadas de “Beatle boots”. Se tornou uma figurinha carimbada na primeira metade dos anos 60.
Óculos
Embora todos os beatles gostassem de óculos, John Lennon era, de longe, o que mais os usava. Ele não chegou a ser um Elton John da vida, mas colecionou alguns pares diferentes. Os mais reconhecidos são dois: os óculos que ele usava quando foi assassinado (que aparece na montagem acima, ainda coberto de sangue. Pequena curiosidade: Yoko Ono twittou essa foto em março desse ano, com a legenda “Over 1,057,000 people have been killed by guns in the USA since John Lennon was shot and killed on 8 Dec 1980"); e os óculos "redondinhos", associados à fase ~~paz e amor~~ do Lennon. Esse modelo é mais remetido ao ex-beatle do que ao Gandhi, que usava pares no mesmo estilo.
4) Imagem conta - e MUITO! E, adivinha? Os Beatles souberam usá-la
Tem gente que, até hoje, subestima o poder da imagem. Agora, imagina na década de 60?
Várias bandas não sabiam investir em si mesmas e na sua representatividade. Só mais tarde artistas se tornaram/apareceram mais perfomáticos - como Queen e Bowie, por exemplo.
Pois bem - os manos de Liverpool ficaram conhecidos pela sua jovialidade e rebeldia contra o estilo de vida tedioso e "sem graça" dos pais, o que não demorou a apetecer o púbico mais novo da época (vale lembrar que a geração jovem dos anos 60 foi a mais “estável" depois do fim da Segunda Guerra. A fome e a falta de dinheiro já não eram alarmantes e as condições de trabalhos não eram mais tão abusivas. Pela primeira vez desde o período de guerras, o lazer ganhava espaço no cotidiano jovem e eles queriam, mais do que nunca, diversão). Apesar de ainda novos no ramo, os rapazes sabiam o que estavam fazendo - e, se você considerar o tamanho gigantesco da fama que eles angariaram, dá pra concordar que eles souberam lidar muito bem com ela. A personalidade deles, é claro, ajudou bastante.
Um autor chamado Gammond escreveu: “Como personalidades, [os Beatles] eram cativantes, arrogantes, espirituosos, cínicos por vezes; interessantes e articulados, mas focados em se divertirem; possuíam uma honestidade auto-depreciativa que cortava o hype da publicidade”. O roteirista Kureishi resumiu assim: “Os Beatles tornaram-se heróis para os jovens porque eles não eram diferentes: nenhuma autoridade havia quebrado seu espírito; eles eram confiantes e engraçados; eles retrucavam; ninguém os colocava para baixo.”
5) Beatlemania: querendo ou não, a maior febre musical do século XX
O termo “Beatlemania” (ô loco, que breguice) foi "inaugurado" pelo jornal Daily Mirror, lá em 1963. No início, a adoração aos Beatles eram comum entre os jovens, mas ela rapidamente acabou se alastrando entre vários grupos. Davies Hunter, biográfo autorizado dos Beatles, escreveu: “Pessoas de todas as idades e intelectos sucumbiram, mesmo que nem todas tão histericamente quanto os adolescentes.”
E isso é o que diferencia Beatles das demais bandas, mesmo elas sendo tão talentosas e bem sucedidas, como a Rolling Stones. As suas influências que alcançavam várias áreas, seus álbuns sendo comprados a rodo, o rebuliço e até mesmo a histeria que os envolvia contribuía até para quem não gostasse deles fosse afetado por suas referências do mesmo jeito. Esse é o jeito que manias funcionam.
E aí entra outro “porém”: manias são conhecidas por não durarem muito. Justin Bieber? Nem sei mais quem é. As Meninas? Nada delas desde Bom Xibom Xibom Bombom. As manias atingem um pico e depois somem - mas a coisa com os Beatles foi diferente. Sua fama durou anos e, mesmo quando ela acabou, eles permaneceram ultra famosos (de fato, eles são até hoje, né?).
O ponto importante da trajetória deles é que a banda evoluiu. Se eles tivessem continuados os mesmos, teriam se tornado entediantes rapidinho. E o fato de que a evolução deles aconteceu junto com um amadurecimento musical foi ainda mais crucial para eles serem reconhecidos até o dia de hoje.
protestos? não, só fãs dos Beatles, mesmo
Procês terem uma noção de como esse puto desse álbum é importante e, pra variar, abarca várias áreas de influência: ele já foi tema de uma aula de semiótica minha. Uma aula pra analisar a capa do CD. Sério. (Aliás, se tiver algum interessado nisso por aqui, existe um artigo inteirinho sobre a iconografia desse álbum; chama “O Reflexo do Sargento Pimenta: a influência do álbum dos Beatles”, o autor é o Diogo Xavier Saes e cê pode ler essa lindeza aqui.)
Sgt. Peppers é constantemente apontado como o melhor álbum dos Beatles, mas, gostos e opiniões à parte, uma coisa é certa: ele foi crucial para o desenvolvimento da música. O álbum é uma mistura de misticismo, surrealismo e rock que levou a música pop a novos níveis de criatividade. Os autores Wicke e Ziegenrücker o descreveram como um álbum que não é formado por várias músicas individuais juntas, mas sim planejado como um todo - mesmo com as faixas não sendo do mesmo gênero. Álbuns assim foram mais difundidos com o tempo (oi, boa tarde, Dark Side of the Moon!), mas ó só: quem começou foram os Beatles. Taí outro motivo, padawans.
7) É sério, cês já pararam pra perceber quantas bandas e artistas foram influenciados em peso pelos Beatles?
Eu lembro direitinho de estar lendo a biografia do Ozzy Osbourne - inclusive, recomendo, viu? Já até fiz um post sobre ela aqui no WLN -, que foi escrita pelo próprio, e o ler descrevendo a paixão que ele tem pelos Beatles. Eu nunca tinha associado os dois - nem o Black Sabbath - e foi a primeira vez que eu fiquei pasma com o quanto os moleques de Liverpool contribuíram pra música.
trutas
Claro que eu não vou gastar meus pobres dedinhos e sua vista listando TODAS as músicas e artistas que os Beatles influenciaram. Pra citar algumas, vai de Ramones, Oasis, Pink Floyd, Coldplay, Nirvana, The Beach Boys, Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, blink-182, Green Day, The Cure... Nem o movimento da tropicália brasileira conseguiu escapar.
mas vejam só vocês
Uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos, Queen, foi influenciada por Beatles, também. Eles nunca esconderam isso, e o Brian May deu uma declaração abençoada de se quotar. Ele contou que a gravação de Bohemian Rhapsody (sim, THE bohemian rhapsody) foi de um jeito parecido com o que John Lennon fazia com os Beatles, e que eles eram a “bíblia” do Queen. “Pudemos fazer mais coisas, porque tivemos melhor tecnologia e o benefício da experiência [dos Beatles].”
8) Os Beatles e a Anglicanização da Música
Hoje em dia, desde a Checoslováquia até o Alasca, as músicas são difundidas em inglês. É tão comum que nem notamos tanto mais. E taí outra coisa na qual os Beatles tiveram uma mãozinha -- com a Beatlemania reverberando no mundo inteiro, o processo de anglicanização e americanização da música, que já tinha começado lá nos anos 50 com o rock'n'roll, começou a entrar em full speed. Vários países começaram a aprender inglês, língua que “monopolizava” os gêneros musicais da época. As músicas eram praticamente o único acesso ao inglês que eles tinham, e muitas vezes eram os Beatles, a banda mais popular naquele tempo, que as pessoas ouviam e usavam para aprender inglês - língua que, desde então, começou a ser considerada sinônimo de algo especial e de qualidade.
(Lembrete aos navegantes: eu, pessoalmente, não necessariamente concordo que inglês é a melhor língua do mundo. Mas num tem jeito - esse daqui é um dos motivos que os Beatles são importantes, então ééééé´´e´´´´e´´ÉÉ´´E´´e, né?)
9) O lugar deles na cultura popular é incomparável. Desculpa, inimigxs.
Os filmes deles (aliás, cês sabiam que eles queriam fazer a adaptação cinematográfica de Senhor dos Anéis? Tenho até medo de pensar no resultado); a aparição deles no Ed Sullivan Show, onde eles tocaram para 74 milhões de pessoas; a comparação de fama até com Jesus; Helter Skelter e o Charles Manson; Yoko Ono; a capa de Abbey Road; o assassinato de John Lennon; e até a lenda (estimulada pelos próprios Beatles, segundo alguns) de que Paul McCartney está mortinho da silva: todos esses são exemplos de figuras e fatos que fazem parte do imaginário popular. As próprias melodias das músicas mais famosas dos Beatles pulam à nossa memória em poucos segundos, sem dificuldade nenhuma.
A Magical Mystery Tour influenciou Steven Spielberg. Várias atrações televisivas e cinematográficas já fizeram alguma referência a Beatles. Várias músicas citam os meninos de Liverpool. Esses e outros exemplos só ilustram a importância cultural do fenômeno dos Beatles, desde os anos 60 até os dias de hoje. Não é a toa. Eles podem não ser a melhor banda do mundo - mas certamente foi a mais importante.
Foram vendidos mais de 400 milhões de álbuns enquanto ainda eram ativos como banda; a definição “Beatles” no dicionário de música popular de Oxford é “grupo britânico de rock. Qualquer pesquisa ou história sociológica da Grã-Bretanha na década de 1960 teria que incluir uma seção a respeito do fenômeno Beatles. É evidente que é o grupo mais importante na história da música popular, e sua influência é incalculável.”
bjux
10) Gente, e a influência imaterial deles, hein?
“Os Beatles nos deram a oportunidade de olhar os outros nos olhos e falar "Olha, nós somos os mesmos. Nós somos iguais. E termos como capitalismo, socialismo, comunismo, eles não significam nada, porque nós somos seres humanos.” (Grebenshchikov, músico russo)
Novas ideias, novo discurso, nova abordagem, revolução sexual, generation gap e até drogas - nós podemos encontrar tudo isso nas músicas dos Beatles, assim como nas histórias dos seus próprios integrantes. A evolução daquela banda de garotos jovens até homens barbudos que procuravam pelo significado da vida refletem em seu trabalho que, por sua vez, produziu frutos que ainda são atuais e capazes de estabelecer uma relação de intimidade com o público. Aliás, os públicos.
“Cinquenta anos depois, os Beatles estão vivos porque eles ainda nos proporcionam o mais fantástico dos sentimentos: a apreensão de uma felicidade que podemos segurar, como uma mão.” (Adam Gopnik)
Espero que vocês tenham gostado, pessoas!
Para quem se interessar ainda mais pelo assunto, vou deixar aqui dois artigos que eu li para fazer o post e mais alguns sites que abordam o tema:
- The Beatles and Their Influence on Culture (Rudolf Hecl)
- A Point of View: Why are the Beatles so popular 50 years on? (Adam Gopnik)
- O Impacto da Era Beatles no Brasil (Clara Abdo)
- A herança dos Beatles para o mundo da música (Bárbara Toledo)
Câmbio e desligo!
cê é foda!
ResponderExcluiró quem fala
ExcluirUma coisa que eu achei muito foda é que você teve o cuidado de não dizer que não foram eles que criaram as coisas, mas que eles são referência. Digo isso pelo item 3, que é mais a minha área rssssss, porque nada daquilo surgiu dos Beatles e, da primeira vez que li, pensei "epa, peraí", mas aí li de novo e vi que, realmente, não foi isso que você disse.
ResponderExcluirCê sabe que eu não sou fã de Beatles, mas ó, RESPECT! (a você, ao post e aos Beatles)
que bom que cê ficou feliz, zuda!! tomei cuidado pra não dizer isso, mesmo. :3
ExcluirPreguiça de ler tudo isso ainda mais pra quem não tá nem aí pra isso HAHAHA
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