We Like Nerds

"Oh, Sandy, don't be shy!"

        

         Você provavelmente conhece a Sandy; sabe que ela fez parte da dupla Sandy & Junior; que ela, apesar de abominar o fato, leva a imagem de “perfeitinha” desde a adolescência. E você, ao se lembrar da música que ela fazia junto ao irmão, provavelmente elimina qualquer possibilidade de parar o que está fazendo para escutar seu novo álbum, “Manuscrito”, justamente porque ainda está preso à ideia de baladinhas pop, musiquinhas infantis e covers da “célebre” Céline Dion. Bom, se você pensa dessa forma, você está errado; a era de covers já passou há alguns anos.

         A primeira música composta e gravada por Sandy foi “As Quatro Estações”, aos quinze anos. Talvez não seja uma canção excelente, de letra digna o suficiente para os ouvidos acostumados ao rock; entretanto, a idade de sua compositora quando o fez, chega a surpreender alguns dos grandes nomes da música nacional (entre eles, Marcelo Camelo, que “assumiu” gostar da letra). Em 2006, Sandy e o irmão assumiram as rédeas de seu último álbum em estúdio, homônimo à dupla, e não chegaram a decepcionar (tente se lembrar de “Estranho Jeito de Amar”, “Tudo pra Você”, ou “Abri os Olhos”). Agora, porém, o processo de evolução musical de Sandy se mostra bem mais desenvolvido.

         “Manuscrito” foi gravado de outubro de 2009 a fevereiro de 2010, produzido por Lucas Lima (marido de Sandy) e Junior Lima (irmão da cantora), além de ter a coordenação musical assinada por sua intérprete. Independente disso, o álbum é um dos mais aguardados de 2010, por conta da espera dos “órfãos” da dupla, que se separou em 2007, e por ser uma das maiores apostas do mercado fonográfico nacional para esse ano.

         Diferentemente dos álbuns que Sandy lançou no início da década de 2000, “Manuscrito” não traz super-produtores internacionais, dignos de Britney Spears ou N’Sync; as canções têm arranjos simplistas, quase sempre acompanhados por piano ou violão, o que já as deixa menos cansativas. Além disso, a voz de Sandy está bem mais contida do que quando ela ainda cantava com o irmão; isso já facilita um pouco mais a aceitação por parte dos ouvidos mais intransigentes, que não possuem mais a sensação de serem estuprados pelos agudos inspirados pelos vocais da já citada Céline Dion.

         Com certeza você vai encontrar musiquinhas fracas (como “Pés Cansados”, a primeira música de trabalho e a piorzinha do álbum); entretanto, não pode se deixar levar por um exemplo só: “Manuscrito” tem algumas canções influenciadas por estilos diferentes, como o folk em “Dedilhada” e o rock nacional em “Sem Jeito”, sem falar de “Tempo”, com uma pequena influência de Tom Jobim, e “Ela/Ele”, com uma clara e enorme influência de Chico Buarque. Além dos exemplos já citados, ainda há “Quem Eu Sou”, inspirada no bubblegum americano (para quem não sabe, é um tipo de pop rock “chiclete”, como diz o próprio nome, seguido principalmente por vários dos vencedores e participantes sortudos do American Idol, entre outros artistas pop). “Duras Pedras” e “Perdida e Salva” têm em seus arranjos alguns instrumentos exóticos, como o “ukulele” e o bandolim. Outra canção interessante é “Dias Iguais”, que conta com a participação especial da cantora e pianista inglesa Nerina Pallot.

         E ainda vemos a evolução de Sandy quanto às suas letras: a cantora traz canções carregadas de tristeza e melancolia, reflexões sobre onde se localiza quanto à própria vida e até onde quer ir, e músicas de amor, como em qualquer disco. Porém, essas letras trazem uma grande e recém-adquirida maturidade; destaque para “Duras Pedras” e “Mais Um Rosto”, canções extremamente reflexivas, que merecem a atenção do ouvinte, e a necessitam para serem compreendidas a fundo.

         Outro fato destacável da nova fase de Sandy é o que a fez ser acusada de ter “complexo de Clarice Lispector”: "Sou essa pessoa melancólica. Vejo uma beleza triste na natureza, na vida, no mundo, nas pessoas", comentou em entrevista à Billboard Brasil.

         E também temos o senso ecológico: a capa, em vez de ser aquela de plástico que todos conhecemos, é feita de papel reciclado, assim como o encarte. Além de fazer com que o disco seja aprovado pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, ainda diminui o preço do disco de R$ 29,90 para R$ 19,90.

         Além da versão simples, “Manuscrito” também possui uma edição especial, que acompanha um DVD com o documentário Tempo, dirigido por Fernando Grostein Andrade, custando R$ 29,90. Porém, para você que não é um grande fã de Sandy, gastar dinheiro a mais com uma coisa dessas não vale a pena.

         Sandy continua exercendo a mesma imagem de “princesinha encastelada” (mesmo que a contragosto), mas agora, isso já não é o elemento ao qual as pessoas devem dar mais atenção. O melhor é ouvir e criticar seu novo álbum, que traz a cantora, no mínimo, musicalmente amadurecida em relação à sua carreira em dupla com o irmão.

         E agora, voltamos à pergunta que você deve ter feito a si mesmo no início do texto: “porque eu, um nerd, devo ouvir a Sandy, se detesto tudo o que ela fez antes disso?”, e a resposta para essa questão é extremamente simples: tudo o que ela fez antes NÃO tem NADA a ver com “Manuscrito”. E repito o que disse ao introduzir o texto: se você se lembra da Sandy de dez anos atrás, acredite: não é a mesma.

         “Manuscrito” é um grande álbum, principalmente porque a maioria das pessoas não esperava esse tipo de projeto de Sandy. A qualidade adquirida pela cantora através de sua carreira musical de mais de duas décadas de duração é inegável. Se você quer verificar a veracidade do texto acima, ótimo, segue os links para ouvir o álbum abaixo. Se não, é uma pena, talvez você saia perdendo se tomar essa atitude. Mas é como a própria Sandy diz em uma das canções de “Manuscrito”: “[é] tão comum errar, errar e errar de novo”. E uma das dicas que eu posso dar é que o álbum foi disco de ouro antes mesmo do lançamento. Você pode pensar: “mas números não são o mesmo que qualidade”, e eu concordo com você. Mas já são um grande indicador para algo que, de uma forma ou de outra, é satisfatório.

OUÇA O ÁLBUM NOS PLAYERS ABAIXO:

Pés Cansados

Quem Eu Sou

Tempo

Ela/Ele

Dedilhada

Sem Jeito

Duras Pedras

O Que Faltou Ser

Perdida e Salva

Dias Iguais (participação Nerina Pallot)

Mais Um Rosto

Tão Comum

Esconderijo 

Clipe "Pés Cansados":

Apresentações no Altas Horas:

Pés Cansados - http://www.youtube.com/watch?v=XwGmiyZd02I

Sem Jeito - http://www.youtube.com/watch?v=hLndA53ceUI

Tempo - http://www.youtube.com/watch?v=nK4NFGYMR2Y

Para baixar: http://www.4shared.com/file/iS2rXjwy/Sandy_Leah_-_Manuscrito__HQ_.htm

         E lembrem-se: se você gostou das músicas acima, Sandy comparecerá ao Acesso MTV no dia 04/06, às 13h.

Por Daniel, escrevendo pela primeira vez para vocês. Espero que gostem!