PAREDES VIZINHAS
Há algum tempo, assisti o filme argentino Medianeras (Gustavo Taretto, 2011), que acabou se tornando um dos meus preferidos, talvez por pura identificação. Em resumo, ele trata da história de dois personagens, um homem e uma mulher, que praticam atividades exatamente iguais no dia-a-dia, moram perto e nunca se conheceram. A grandeza da cidade os afasta. Por que trazê-lo à tona nesse texto? Porque é a mais pura verdade, e essa verdade me assombra. Da mesma forma que me assombra fazer um novo amigo em uma situação completamente aleatória e parar pra pensar no tanto de amigos perdidos com quem cruzo nas ruas todos os dias. Bota medo a ideia de que alguém que pode mudar o rumo da sua vida talvez more do seu lado e você nunca vai conhecer.
O jornalismo me ajuda todo dia a superar esses pensamentos que passam por minha cabeça. Desde que entrei na faculdade, aprendi a reparar mais nas pessoas. Nos ônibus, ainda que com fones de ouvido, sempre fico atenta aos assuntos ao meu redor. Não gosto que nada me escape, desde as cadelas de uma senhora que se chamavam Latifah, Pepê e Neném até pequenos atos de cordialidade, como dar um lenço para uma pessoa desconhecida para que ela possa limpar o único assento livre. Ou o motorista do sorriso gigante que só dá partida depois que me vê atravessando a rua e entrando em casa. Há duas semanas, ganhei canetas de uma moça com quem encontro todas as manhãs no ônibus. Ela disse que estavam sobrando no trabalho dela e sabia que eu e meus colegas de estágio escrevíamos muito. Não sei se sabe o meu nome. Eu não sei o dela.
Meu ponto é que por mais que a cidade esmagadoramente grande afaste as pessoas, por mais que o Facebook ache que tem o poder de decidir quantos amigos temos e por mais que nossas crianças já nasçam sabendo mexer em Ipads e prefiram arremessar pássaros nervosos em porcos (não que eu não goste) do que jogar bola na rua ou brincar de boneca, às vezes uma situação pode nos botar em contato com as pessoas ao nosso redor novamente, ainda que seja quase imperceptível.
Ainda é possível andar na rua e trocar sorrisos, bons dias, boas tardes ou boas noites gentis. Ainda é possível apreciar pequenos gestos de bondade em uma época em que ela é tão questionada. A tecnologia e a cidade grande podem ter trancado as pessoas em seus próprios mundos, mas talvez esses contatos sejam ainda mais valorizados e proveitosos quando elas finalmente tenham a coragem de abrir a porta para alguém.
Adorei, Laura!
ResponderExcluirParabéns pelo texto, amei!
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