(spoiler alert!)
MUITA POLÊMICA, MUITA CONFUSÃO DECIDI PARAR DE CANTAR PALAVRÃO nessa coluna de hoje. Que mais cês esperavam em um post sobre um filme do Tarantino?
Isso mesmo, rapaziada. Logo depois do "Continue lendo", vou compartilhar com vocês a minha humilde crítica sobre Django Unchained. O que foi bom? O que foi decepcionante? E, o mais importante: cadê o Oscar do Leonardo DiCaprio??!!!!!???!!!?!!
Aos que quiserem, também deixo aqui um player com a música que mais caiu como uma luva no filme: Ain't No Grave, do Johnny Cash.
there ain't no grave can hold my body down / when I hear that trumpet sound / I'm gonna rise right out of the ground / ain't no grave can hold my body down
Vamos começar pelo óbvio: Django deve ser o filme mais polêmico do Tarantino (que, make no mistake, é um dos meus diretores preferidos). Antes mesmo de ser lançado ele já levantou discussões. A mais conhecida delas foi a declaração de Spike Lee, que disse considerar o filme desrespeitoso. Palavras dele: “A escravidão americana não foi um spaghetti western de Sergio Leone. Foi um Holocausto. Meus ancestrais foram roubados da África”. E é pegando gancho nessa fala que eu faço meu primeiro ponto sobre o filme: não achei que Django teve, de alguma forma, a intenção de ofender. Mas ele carrega, sim, ingredientes que podem o fazer, sendo o mais óbvio deles uma característica previsível do Tarantino: o uso frequente da palavra “nigger” que, pra quem não sabe, foi (e ainda é, em algumas circunstâncias) usada para descriminar negros de uma forma pejorativa.
Nas outras vezes que Tarantino fez uso dessa expressão em seus filmes, elas passaram quase despercebidas como ofensivas pelo público (menos pelo próprio Spike Lee, que já condenava o uso da palavra desde o longa Jackie Brown). O clássico Pulp Fiction usa o termo várias vezes - até mesmo o personagem interpretado pelo próprio diretor no filme o cita mais de uma vez (“did you
notice a sign out in front of my house that said ‘Dead Nigger Storage’?”). Mas em Django o contexto muda: o enredo do filme se passa durante a triste época da escravidão norte-americana, onde o termo era usado, em sua esmagadora maioria, como forma de ofender/diminuir/desprezar os indivíduos negros. Se respeito e entendo quem se ofende? Claro que sim, e ainda dou razão - essas pessoas estão no direito delas. Se eu acho que Tarantino fez isso com o intuito de ofender? Não, nem um pouco. Como disse Paul Barret no seu artigo “Django Unchained: Coonskin Redux?”: “Certamente há um vício de Taratino pela palava-que-começa-com-N, uma palavra que ele parece gostar de usar devido ao seu 'efeito badass'. Ou seja, se você utilizá-la, você é um badass. (...) O problema fundamental com o filme, no entanto, é que ele não pode escapar desse paradoxo de realismo racial que tenta representar algum ‘núcleo’ ou ‘realidade’ do que significa ser negro, o que termina por reproduzir os estereótipos muito racistas que o filme afirma contrariar.” (para os interessados em se aprofundar nessa discussão e/ou ler o artigo, é só clicar AQUI). Tarantino, pra variar, brincou com fogo. E, óbvio, vai arcar com os desdobramentos que isso gera.
some men just want to watch the world burn
“Mas tia Laíííís, por que não teve esse tipo de discussão em Inglourious Basterds, que se passava na época do nazismo, por exemplo???” Existe uma diferença crucial entre Inglourious Basterds e Django Unchained, pequenx padawan: no primeiro, um grupo de justiceiros tem como objetivo acabar com o regime nazista. No último, dois caçadores de recompensa tem como objetivo resgatar a mulher de um deles. Não me leve a mal - não que resgatar sua amada seja algo ruim ou não valoroso, mas o que muito chamou atenção é que a escravidão, outro regime cruel, preconceituoso e mortífero como o nazista, serviu só de pano de fundo para a trama de Django. Apesar dos personagens de Jamie Foxx e Christoph Waltz demonstrarem seu asco pelo sistema escravista, em nenhum momento do longa eles procuram formas de ao menos prejudicá-lo. Django está em busca de uma vendetta pessoal, o que muitos não esperavam, ainda mais depois de saber que tanto este filme quanto Inglourious Basterds fazem parte de uma mesma trilogia tarantinesca que, segundo o diretor, quer abordar de forma inusitada eventos históricos. Mas como ele não prometeu nada, que mais podemos fazer além de suspirar, né mesmo?
Eeeeeeeee se por um lado ele não economiza nesse tipo de polêmica, de outro ele deixa um cadinho a desejar. Confesso procês que eu esperava que a personagem feminina central (e única?) do filme, Broomhilda, fosse mais marcante. Sempre amei de paixão o fato de que as mulheres nos filmes de Tarantino fossem retratadas como personagens fortes e notáveis, coisa rara por aí. Kerry Washington é fantástica em seu papel, mas sério, que roteiro foi esse que ela desmaiava quando revia Django e, ao invés de se juntar a ele na cena que ele mata, um por um, todos que maltrataram Broomhilda durante anos, ela fica lá fora esperando pacientemente? Sério, minha linda?
calma galera caí aqui rapidim mas eu to vivona
Isso, claro, é uma crítica pessoal; a personagem, inclusive, tem várias cenas intensas, como as de tortura (aliás, mostrar os castigos direcionados aos escravos sem nenhum pudor, com o intuito mais puro de chocar a audiência, foi um dos pontos altos do filme. Pontos pra Tarantino por mostrar a podridão da escravidão), mas eu, ao menos, esperava que uma personalidade mais marcante fosse denotada durante o filme.
Aproveitando que eu citei a Kerry Washington e antes que eu seja apedrejada, vamos aos pontos ótimos do filme? Me digam, pessoas, QUE ELENCO FOI ESSE? Só faltava a perfeição escorrer pra fora da tela e inundar a plateia inteira. Achei várias atuações impecáveis - principalmente a de Christoph Waltz e do Leonardo DiCaprio que, pelamordeDeus, merecia mais crédito das premiações cinematográficas que tem por aí. Onde é que se viu ignorar um ator do porte dele? O desgraçado até sangrou de verdade em cena e não saiu nem por um segundinho do personagem. Sério. Chega a dar raiva de tão BAMF que ele é.
você é um vencedor no meu coração, Leozinho
E é um óbvio ululante que eu não podia deixar passar despercebido aquele, que é o Robin pro Batman de Tarantino, o meu, o seu, o nosso SAMUCA L. JACKSON, que está simplesmente maravilhoso como vilão do filme (eu sei. Desculpa, Monsieur Candie, mas essa é a verdade).
lida com issaê, meu senhor
Lógico que, com essa abundância de atores ótimos, o que não iam faltar eram cenas ótimas - embora, na minha humilde percepção, a melhor cena do filme todinho foi a dos pobres coitados da Klu Klux Klan querendo encurralar dr. Schultz e Django - e diálogos ainda melhores, o que é de se esperar em um filme do Tarantino. Dá pra sentir o gostinho de frases icônicas sendo geradas durante o longa (“I like the way you die, boy” / “Sorry, I couldn’t resist” / “You, sir, are a sore loser”“And you are an abysmal winner” são ótimos exemplos).
Falando em cenas, vale a pena citar os zooms maravilhosos que me fizeram padecer constantemente.
pra bom entendedor meio zoom basta: SHIT IS ABOUT TO GET SERIOUS
E, claro, eu não podia me despedir desse post e de vocês sem elogiar a trilha sonora impecável do filme - sério, até mesmo quando tem o Django cavalgando ao som de um rap bolado, a música se encaixa direitinho. Obrigada, Papai do Céu, por esses momentos de glória e por outros traços tarantinescos específicos presentes no filme, como as cenas tresloucadas de tiroteio e sangue pra todos os lados, pra deleite da audiência.
aproveitem e fiquem com essa breve e direta ilustração sobre como o Tarantino enxerga o corpo humano, de acordo com seus filmes
Olha, eu até me desculparia pela Bíblia que se tornou essa análise, mas se vocês não querem ler, o que diabos cês estariam fazendo num blog, num é mesmo? Resolvi largar dessa incoerência e me desculpar por outra coisa: eu tinha pensado em legendar daquele JEITINHO ESPECIAL o trailer de Django e colocar no fim do post, mas meus planos não puderam se concretizar... Mas o motivo é bom, eu juro! A equipe do WLN tem uma surpresa pra vocês relacionada a trailers de filmes, que deve ir ao ar na semana do Oscar! Fiquem ligados :)
Câmbio e desligo!
Ninguém melhor que Laís Izzle para fazer as honras do WLN pra esse filme maravilhoso.
ResponderExcluirMomentos de deleite, na minha humilde opinião:
1- Cena do Klu Klux Klan: só Tarantino tem o poder de manter uma cena imensa 100% sem noção com aquela classe.
2- Cena do rap. Momento de glória, não conseguia parar de bater palmas.
3- Letreiro Star Wars seguido de letreiro estilo Powerpoint ("Mississipi"). É lindo ver alguém que pode transformar algo que a sua tia velha usa nos pps de auto ajuda em um recurso de linguagem digno.
4- Cena de matança final: o Django atira na irmã do Leo Dicaprio de bandinha e ela é arremessada num ângulo perfeito de 90 graus para trás.
Enfim, palmas.
Nenhum outro diretor usaria o zooms e distanciamentos rápidos nos tempos de hoje. É incrivelmente brega e foda ao mesmo tempo.
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