29 de janeiro de 2013


Olá, anônimos desse meu Brasil! Hoje venho falar [sim, há spoilers durante o post todo] sobre...

!?

      Mentira, é sobre The Life of Pi mesmo, mas justificarei essa imagem mais pra frente. 


      O filme dirigido por Ang Lee (O Tigre e o Dragão) conta a história de Pi Patel, um jovem indiano que se mudará para o Canadá com a família para evitar a falência. O negócio da família, porém, é um zoológico, portanto a viagem teria de ser feita em um navio cargueiro para conseguir comportar todos os animais. Eis que começa o conflito principal da trama: o navio afunda. O menino consegue escapar em um bote, mas é obrigado a lidar com o fato de que sua família inteira morreu no naufrágio e de que será obrigado a dividir o bote com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre. Encurtando a história, a hiena mata a zebra e o orangotango, o tigre mata a hiena e o menino e o tigre, chamado Richard Parker, vivem felizes para sempre são obrigados a conviver na pequena embarcação. 

Conviver fora de alcance, afinal, um tigre ainda é um tigre.


      Em meio a estonteantes paisagens (resultado do impecável trabalho de Lee e Claudio Miranda), o rapaz se mantém alerta pela vida, seja protegendo-a do tigre ou do afogamento ou da escassez de comida. Enfim, no meio dessa desgraça mostrada de forma linda, o tema religião é abordado diversas vezes de forma não convencional. Não é feito nenhum apelo a um deus (porque o menino tinha três religiões, portanto, era politeísta) por salvação, mas os gritos para as divindades ajudavam a mantê-lo atento, agradeciam pela vida, ou pela compreensão de mundo que cada uma de suas crenças o deu. A visão de religião não como um conjunto de regras seguidas em busca da salvação, ou como uma deposição cega de esperanças sobre um ser superior, mas como uma acompanhante, dá ao filme uma força surpreendente de sensibilizar o espectador.
    
     Durante essa odisseia, os dois aventureiros (um beijo sessão da tarde) encontram uma  ilha (desconhecida?) incrível onde milhares de suricatos vivem, e são, por causa de terríveis mudanças na água que banha o lugar à noite, obrigados a voltar para o barco e arriscar a vida em busca de terra firme. Por fim, quase sem forças, menino e tigre atracam no México, e este entra numa floresta sem nem olhar para trás para despedir-se silenciosamente do seu amigo humano. (essa cena é mais heartbreaking do que eu descrevi, mas isso é apenas um detalhe).

     Ao ser resgatado, o menino conta aos empregados da seguradora do navio sua história fantástica e, obviamente, recebe a mesma credibilidade que um vegetal receberia. É então feita uma analogia que provavelmente é a história real: a zebra era um japonês do navio, a hiena era o cozinheiro truculento, o orangotango era a mãe de Pi e Richard Parker era o próprio menino.

Surpresinha!


      Por mais que a história narrada por um já adulto Pi esbanje carisma, é inegável que a realidade não era bem o que foi pintado. O cozinheiro havia matado o japonês para fins canibalísticos (olha o eufemismo, moçada!) e depois a mãe do menino, que não conseguiu ver aquilo inerte e se vingou. Sozinho, ele teve todo o tempo preciso para se confrontar, se conhecer (olha a Ilha Desconhecida aqui de novo) e superar toda a dificuldade que era a solidão e o luto, e no fim, deixar essa personalidade ir sem olhar para trás, abandonando seu passado na Índia para construir um futuro no Canadá. O filme permite uma série de interpretações levando em conta simbologia e outras coisas, mas isso vai de cada um; muitos são os significados possíveis de se atribuir a eventos e a animais. A crença em uma versão da história ou outra também pode depender de cada um, caindo em algo que Bill Watterson, autor e ilustrador de Calvin e Haroldo (RÁ!) disse sobre seu tigre certa vez em uma de suas raras entrevistas (queria usar aspas mas não achei a entrevista, então usarei minhas pobres palavras mesmo). Ele comenta que não existe uma verdade absoluta; o tigre não é só a imaginação de Calvin e não é só um boneco de pelúcia. Todas as visões podem ser tidas uma vez que há mais de um referencial a ser levado em conta. Se há, na história, alguém que acredite em uma versão fantástica, ela não pode ser tomada como uma completa mentira, porque, para a própria compreensão da narração, todos os pontos de vista são, em algum momento, reais.

      Espero que vocês tenham gostado do post e aconselho que vejam o filme. Vou encerrando por aqui, quem gostou curte e quem não gostou compartilha. Até mais internautas, muita pera, uva, maçã e salada mista pra vocês.

Um Beijo.


      Ps: O Conto da Ilha Desconhecida é um conto de José Saramago que fala sobre a saída da zona de conforto na busca pelo autoconhecimento.
      Pps: Se, por ventura, esbarrar na entrevista em que Bill Watterson fala sobre Haroldo, colocarei aqui.
      Ppps: O filme é incrível, mas o livro, por mais bem escrito que seja, copia descaradamente (não a ótica, mas a situação) do livro Max e os Felinos, do autor Moacyr Scliar, sem ao menos creditar a inspiração ao escritor verde e amarelo. Para ficar por dentro das tretas de 2002, veja este vídeo

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