17 de setembro de 2012


      Andar pelas ruas de uma cidade sempre me faz pensar na vida. Não sei se é por causa das pessoas, ou se é efeito da caminhada, ou se é o sufoco dos prédios altos. Pode ser no meio da tarde, com as lojas abarrotadas de gente e o sol a pino, ou no meio da noite, quando a iluminação é baixa e as expectativas altas. Ou até nas primeiras horas da manhã, com os atores dos sonhos se misturando nos cenários da realidade.

      Às vezes, penso em cidade como cenário. Se estou triste e ando pelas ruas, os tons cinzentos se sobressaem, o vento fica mais frio, a iluminação me parece melancólica. Se estou feliz, as pessoas sorriem, as poças abrem caminho, o velinho do violão toca uma canção de amor correspondido. Outras vezes, penso que ela é protagonista e a gente figurante. É só olhar para o alto das torres e das cúpulas e ver como as toneladas e toneladas de concreto e vidro foram se amontoando e amontoando sem que a gente notasse, em como os seus enormes corredores fizeram o ar aprender novos caminhos e criaram caminhos pra nós. Cidade, às vezes, é diálogo também, é palavra viva.


      Pode parecer estranho, mas, quando ando pelas ruas da cidade, eu sinto solidão. Mais estranho ainda é que, em alguns desses dias, me dá um sensação de solidão compartilhada. De tristeza e alegria ao mesmo tempo. De beleza e de caos.

      Talvez seja porque existe um pouco de solidão nas coisas muito belas. Ou nas muito grandiosas. Ou, ao mesmo tempo, seja porque o belo é uma alegria para sempre. 1


Calçadão, Ash Aredes

1- "Tudo o que é belo é uma alegria para sempre
     O seu encontro cresce; e não cairá no nada.
     Mas guardará continuamente para nós
     Um sossegado abrigo, e um sonho todo cheio
     De doces sonhos de saúde e calmo alento."
     John Keats

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