
Olá, seus nerds! Como vai a sua semana? Tudo tranquilo? Na paz? Bom para você. Hoje eu estou aqui para apresentar-lhes um filme que eu assisti há uns dois meses e que eu acho que merece ser assistido e aplaudido. Mas antes eu vou contar a história de como eu assisti.
Certo dia, decidi aproveitar a promoção das terças-feiras no Alameda, na qual se paga R$4,00, e queria ver Tão Forte e Tão Perto. Porém, as pessoas que me acompanhariam, em um de seus idiossincráticos atrasos, conseguiram me impedir. Logo, para não perder a viagem, procuramos sessões que estivessem próximas e permitissem tempo suficiente de sono, e logo nos deparamos com uma comédia romântica francesa chamada Os Nomes do Amor. Existia mais alguma opção? Não. Então nós fomos. E qual não foi a nossa surpresa?
O título brasileiro deliberadamente desvia do original (por causa dos velhos fins marqueteiros), que significa Os Nomes das Pessoas. É claro, ainda é uma comédia romântica, mas a história contada é muito mais do que isso.
Les Nom des Gens conta a história de um casal de “mestiços” de franceses com estrangeiros e todas as consequências que se dão em torno disso. Bahia Benmahmoud é filha de uma ex-hippie ativista com um argelino sobrevivente da guerra pela independência entre Argélia e França. Seguindo o exemplo da mãe, Bahia é uma esquerdista convicta. Porém, eventos em sua infância e programas de TV a levam a se tornar, em suas próprias palavras, uma “puta política”: a melhor forma que ela encontra para converter os conservadores é o sexo. A outra metade do casal, Arthur Martin, é consideravelmente mais velho, aparentemente um típico francês conservador, o que, na verdade, o leva ao primeiro encontro com Bahia. Porém, Arthur é filho de uma judia ilegal (disfarçada de francesa). Além disso, é defensor dos ideais esquerdistas, embora não tão ferrenho quanto Bahia.
Arthur, que é um zoonosólogo (ou seja, trabalha com as doenças dos animais), vai a uma rádio falar sobre a gripe aviária (que atacou a França há alguns anos), e é interrompido por Bahia, que pensa que todo o transtorno criado em volta da doença é uma forma de privar os indivíduos de suas respectivas liberdades. Logo, os dois se reencontram para um café, ocasião na qual Bahia torna bem clara sua regra de dormir com os caras no primeiro encontro (com a intenção única de torná-los esquerdistas, o que funcionou várias vezes). É claro, Bahia surpreende-se com as verdadeiras “cores” de Arthur, e a partir daí se desenvolve uma relação cômica, interessante e diferente para ambos. Em meio a essa relação, desenvolvem-se também as relações familiares dos dois personagens, que, agora, encontram-se em situações completamente diferentes das que conheciam desde a infância.
Outro ponto importante na história é a questão da “identidade”, muito comum na Europa: enquanto Bahia se orgulha de ser a única com esse nome em toda a França (apesar da confusão das pessoas, que a perguntam se “é brasileiro”), tanto por causa disso quanto pelas origens argelinas, Arthur divide o nome com quase 7 milhões de conterrâneos e uma marca de eletrodomésticos (que o torna motivo de piada). Além disso, ele é extremamente reservado quanto a suas origens judias, tendo várias oportunidades de usar isso a seu favor e abandonando-as por medo de manchar a memória dos que sofreram na guerra. A questão da “identidade” também é realçada pela xenofobia, outro elemento recorrente na história.
Les Nom des Gens é, em sua essência, despretensioso e divertido quanto ao pano de fundo político, que dá profundidade aos conflitos dos personagens e, ainda assim, fornece uma certa leveza cômica para algumas cenas, além de tornar o filme QUASE educativo (afinal, numa batalha pela atenção do espectador, quem ganha é a história francesa ou a nudez da protagonista?). Os personagens e seus diálogos são caricaturados e verossímeis ao mesmo tempo, o que contribui ainda mais para a mistura equilibrada de romance, comédia e drama. Outra característica marcante é a direção inteligentíssima, de fotografia impecável, jogos de câmera divertidos, edição interessante (que, ás vezes, participa efetivamente do suspense ou da comédia) e entrelace criativo entre o que se passa na cabeça dos personagens e o que se passa na realidade.
O filme ganhou dois César (o “Oscar francês”) em 2011, como Melhor Roteiro (para Michele Leclerc, que também dirigiu o filme, e Baya Kasmi, que introduziu elementos autobiográficos) e Melhor Atriz (para Sara Forestier, a Bahia), muito merecidos. É, obviamente, outra obra-prima surpreendente do cinema europeu, que, na minha opinião, está vendo melhores dias do que o cinema americano.
Muito obrigado a você, leitor, pela paciência e audiência e espero que eu tenha incitado vocês a assistir o filme, pois vale muito a pena! Para quem quiser, é só jogar o nome do filme no Google e você já acha vários links para baixar.
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