
Hello Stranger
Engarrafamento às 6 da manhã e ela estava parada com o carro exatamente na esquina onde os prédios não são altos ou largos o suficiente para barrarem o sol. Era como se os raios fizessem curvas e fossem parar direto no seu para-brisa. Fechou as janelas e aumentou o ar condicionado até que o lenço que usava no pescoço passou a ser realmente necessário. Esse era o seu tipo de egoísmo preferido.
Aqueles 20 minutos diários de engarrafamento já estavam tão bem encaixados na sua rotina que ela resolveu usá-los como uma espécie de lazer. Três minutos para escolher o CD perfeito, cinco para comer alguns biscoitos e terminar o café, dois minutos para listar em uma agenda os seus afazeres do dia (gastava só 2 minutos porque sempre desistia no meio do caminho e largava a agenda no banco do carona). O resto do tempo era destinado para sua parte preferida: observar os carros vizinhos e criar histórias para os seus motoristas.
Costumava cruzar com algumas famílias, pessoas que nem se conheciam dividindo o carro por causa do rodízio de placas, taxistas... Mas o seu tipo preferido eram os sozinhos e, naquele dia em especial, tinha se deparado com um caso muito promissor. No sedan preto à sua direita, estava um homem de trinta e tantos anos, com a barba levemente grisalha e um semblante sonolento. Apesar do sol e do calor impraticável, não usava óculos escuros e vestia uma camisa social impecável.
“Trabalha em um escritório, é casado e está entediado” foram os primeiros palpites. Óbvios. Mas ela nunca se contentava com os primeiros... Imaginou que ele pudesse ser solteiro, médico, que devia ter uma bela casa no subúrbio, com cinco cachorros e uma vista de tirar o fôlego, mas que, mesmo com tudo isso, não era feliz e detestava viver sozinho. Ou que era professor durante o dia e tinha uma banda de rock que tocava à noite, por isso a cara de sono. Ele também podia ser motorista de alguém. Ou ser um investidor da bolsa de valores que não estava satisfeito com o fechamento do dia anterior. Ou podia ser um jornalista meio nerd que usa um uniforme e salva o mundo nas horas vagas.
Ficou impressionada com a infinidade de coisas que aquele homem podia ser! E parou pra pensar que, assim como a maioria das pessoas, ele tinha tido a oportunidade de ser o que ele quisesse e no fim das contas tinha escolhido ser o que era. Tinha escolhido, em meio às centenas de mulheres que conhecia, uma só para ser parte de sua família, para dividir com ela a sua vida. Tinha abandonado várias coisas para dedicar tempo às suas duas garotinhas (e como elas tinham dado trabalho aquela noite!).
Abriu o vidro e os dois se encararam com um sorriso. Ela pegou a agenda no banco do carona, abriu e mostrou pra ele.
_Você chegou ao sexto tópico hoje! – ele disse.
_O que você acha de um café da manhã a dois, como comemoração?
Ela atirou um saco de biscoitos pela janela. Ele pegou ainda no ar e riu. A fila de carros em que ela estava começou a andar.
_Hoje é seu dia de pegar as meninas na escola, tá lembrando?
_É claro, marido! Também vou fazer o jantar, limpar as vidraças e cerzir a capa do seu uniforme...
_Ok, ok, a louça do jantar pode ficar comigo – ele disse elevando um pouco o tom de voz, para se fazer ouvir entre as buzinas.
A história daquele homem ela sabia muito bem! Respirou aliviada depois que se deu conta. Ela deu partida e ele observou ela sorrir até virar a esquina.
Que história massa!
ResponderExcluirsó hoje li umas quatro histórias e essa foi de longe a melhor delas, melhorou meu animo e perspectiva, e olha que eu tava lendo Rick Riordan!
Parabéns pelo blog!
Abçs
ass.:
"Nerd em Potencial"
Owwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwn. Que coisa mais... mais... linda meu deus do céu
ResponderExcluirAcho que meu subconsciente vai ficar falando AHHHHHHWWWWWWWWWWWNNNNNNNNNNNN até amanhã.
ResponderExcluirtodos morre com tanta fofura. Acho válido Isalinda fazer um blog de contos hein.
ResponderExcluirQue isso Isa!!!Que manero....Parabéns!
ResponderExcluirPODE CASAR COM ESSE CONTO, GENTE?
ResponderExcluirgente, que conto mais lindo.
ResponderExcluirpode chorar?
Isa que lindooooooo!!!!! Nossa, comecei a ler de um jeito e no final você me surpreendeu! Você sabe que amo histórias assim! Que fazem o leitor acreditar em uma coisa enquanto lê e quando termina vê que era outra coisa totalmente diferente! Fantástico! Estou muito orgulhosa de você minha caçulinha! Linda, linda, linda! Amei!
ResponderExcluirP.S.: Eu fico olhando as pessoas e imaginando o que elas devem fazer, como devem ser e etc! kakakakakkakakakakakaka
Muito, muito, muito legal, Isa.
ResponderExcluirParabéns.
Bjo.
"Nerd em potencial", identifique-se!
ResponderExcluirParabéns paxão minha!! Adorei :)
ResponderExcluirIsa. O adjetivo pro conto é AWESOME. Parabens!
ResponderExcluirIsa!!! Quanto talento encontro em você! Parabéns! Pense na ideia de fazer um blog de contos. Grande beijo, sou sua fã! Ra.
ResponderExcluirISA! pare de esconder seu dom, o mundo precisa de mais contos assim!
ResponderExcluirQue isso!! Adorei a história! Me lembrou muito Luís Fernando Veríssimo (que eu sou fã)!! Muito bom! Parabéns!!
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