18 de abril de 2011


To fall in love and fall in debt to alcohol and cigarretes *


She's all alone again

wiping the tears from her eyes
some days he feels like dying
some days he's not worth trying
now that they both are finding
she gets so sick of crying
("Extraordinary Girl", Green Day)


Um conto rápido de uma história longa

O cheiro da espessa fumaça de cigarro a atingiu em cheio no rosto e ela teve que se esforçar para não tossir. Pediu com o olhar para que ele se sentasse. Quando ambos estavam lado a lado, ombros emparelhados, ele deu mais uma tragada.
- Você está fumando de novo - ela observou o óbvio enquanto brincava de desenhar coisas com o dedo na borda do seu copo cheio de cerveja. Ela odiava cerveja.
Odiava cigarro, também.
- Mas fazia um bom tempo que eu não fumava - ele disse em tom de desculpas.
Ela deu uma risada rouca e curta.
- "Bom tempo". Aham. Te vi fumando ainda esse mês.
Ele imitou sua risada, seus olhos encolhendo por vergonha e compreensão. Ambos sentimentos passaram rápido e ele focou o olhar nela que, por sua vez, olhava seu copo. Quanta cerveja. E ela odiava cerveja.

- Aceita? - ele murmurou. Aceito o quê? Um abraço? Desculpas esfarrapadas? Juras descabidas? Promessas fadadas ao esquecimento? Um tapa na cara para voltar à realidade? Quem sabe. Ela tirou os olhos do copo e o fitou. Enxergou ele estendendo-lhe o cigarro em um gesto que parecia atrativo e tímido.

- Algumas coisas tem limites - ela sussurrou. A fumaça de cigarro expulsa devagar por entre os lábios dele voltou a preencher o ar, nefasta. Por mais que odiasse aquilo, reconheceu um pouco tarde demais que talvez fosse uma das melhores coisas que tivessem saído da boca dele e fossem dirigidas a ela.

O rapaz sorriu em resposta e ela não retribuiu o gesto. Algumas coisas tem limites, repetiu para si mesma. Voltou a olhar para o seu copo. Algumas coisas tem limites, meu Deus.

Ele expeliu fumaça mais algumas vezes e ela sentiu um gosto amargo na garganta. Quando ele olhou novamente para ela, não sorriu mais.

- A cerveja acabou - foi a vez dele constatar o óbvio, indicando o copo dela. Estranho. Não era esse o gosto amargo que ela pensara ter sentido. - Vou pegar mais para você.

- Não vou aceitar mais muita coisa de você - ela sorriu sem sentir e nem se importou em ver se ele retribuíra. - Aproveita.

Ele levantou e saiu de vista. Como ainda aspirava o cheiro incômodo de cigarro, virou-se para o lado a tempo de ver a chama outrora acesa do mesmo apagando-se.

O cigarro tinha acabado - assim como toda aquela história.
Ela não esperou ele voltar com a cerveja.





* Jesus Of Suburbia, Green Day.

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