I’m falling in love, but it’s falling apart. *
A primeira vez que ela achou que estava apaixonada foi quando seu olhar se cruzou com o dele e ela não conseguiu ver nenhum vestígio de brincadeira, risada ou deboche. Foi ali que ela entendeu o que as pessoas queriam dizer com “enxergar a si mesmo nos olhos de outro alguém”; parecia que as íris dele ecoavam o seu nome, como se a chamassem, como se a convidassem. Ela não viu nada nelas além dessa incrível semelhança com um pôr-do-sol. Era como se elas apenas conseguissem falar, além de cintilarem com as mesmas cores que mergulham junto com o sol no horizonte.
A segunda vez que ela achou que estava apaixonada foi quando notou que havia prendido a respiração quando ele chegou perto. Não sabia ao certo o porquê. Talvez o medo de que se sentisse a fragrância do outro, nunca mais seria capaz de esquecê-la – e, dessa forma, iria senti-la em todo e qualquer lugar que algo a remetesse a ele.
Ela não queria isso, porque já achava que estava se lembrando dele mais do que o normal.
A terceira vez que ela achou que estava apaixonada foi quando foi capaz de associar uma música a ele depois de ouvi-la pela milésima vez. Os versos, a melodia, os acordes; tudo repentinamente parecia se encaixar nele.
A quarta vez em que ela achou que estava apaixonada foi quando associou, de imediato, uma música a eles dois. Se perguntou como tudo soava perfeitamente compatível com o que ela sentia. Se perguntou se o artista e compositor não lhe devia nenhum direito autoral.
Na quinta vez que achou que estava apaixonada, foi quando sentiu seu universo esvaziar-se com um simples toque de mãos. Não havia razão para nenhuma empolgação – era um contato como qualquer outro. A sexta vez que achou que estava apaixonada veio rapidamente, logo em seguida: Foi quando a mão dele, sorrateiramente, entrelaçou-se a sua. Novamente, não havia razão para nenhum impulso alegre repentino – era só uma ação como outra qualquer –, mas mesmo assim ela o sentiu, e desde então não consegue lidar com ele e com a articulação necessária para andar e para falar ao mesmo tempo.
Talvez isso a torne uma pessoa patética, talvez isso a torne uma pessoa que está amando... Ou ambas.
A sétima vez que achou que estava apaixonada foi quando ele a abraçou. O chão, o ar, a luz, os cheiros, as formas, as pessoas, as coisas: tudo se tornou um borrão irrelevante, e tudo que ela conseguia processar era a sensação de estar envolvida nos braços dele. Quis gritar por socorro, quis correr, quis empurrá-lo longe. Nada fez além de puxá-lo para mais perto e tentar prolongar aquele abraço. Ela prometeu que seria o primeiro e último. E, dito e feito, realmente fora – mas ela nunca, nunca conseguiu tirar aquele gesto da memória, como se ele estivesse tatuado lá, esperando a mais ínfima lembrança para despertar-se e voltar a assombrá-la.
A oitava vez que achou que estava apaixonada foi quando um sorriso dele foi capaz de fazer seu mundo congelar por alguns míseros instantes nos quais ela se sentiu fora de órbita. Quis correr, quis fugir, quis nunca mais voltar. Só conseguiu sorrir de volta.
A nona vez que achou que estivesse apaixonada foi quando o ouviu divagar sobre os acontecimentos mais banais da sua rotina e ela o ouviu, religiosamente, como se aquilo realmente fosse fazer alguma diferença na sua própria rotina. Saber o que ele fez, o que ele disse e como se sentiu parecia essencial para ela naquele instante. E ela quis tardar o máximo possível um próximo encontro, porque sabia que seria a décima vez que ela julgaria estar apaixonada.
Ao mesmo tempo em que, droga, ela queria o ver mais do que tudo. E foi assim, através dessa certeza, antes mesmo do próximo encontro, que ela pensou estar apaixonada.
Foi aí que ela passou a achar que, além de estar apaixonada, ela também podia estar afundando cada vez mais naquele sentimento que ela julgava ser o sinônimo de “loucura”.
Ignorou a si mesma, como era comum ela fazer. E, quando pensou que acharia que estava apaixonada pela décima primeira vez, sentiu pela incontável vez em seu ainda escasso tempo de vida aquilo que ela quis evitar.
Dor, dor, dor. Lágrimas subindo à tona, choro engasgado na garganta. Não vou chorar. Não vou chorar. Não vou chorar por ninguém, ninguém além de mim mesma.
Mas havia chegado a um ponto que ela não sabia mais distinguir ele dela mesma. A associação havia se tornado rápida e fora do seu controle e, quando chorou, chorou por ela, chorou por ele, chorou pelos dois.
Não mais achava que estava apaixonada. Seu interior e seu exterior não mentiam. Ela tinha certeza de que não estava apaixonada.
Ela estava, mais uma vez, afundando naquele sentimento que dizia ser “loucura”. Antes estivesse apaixonada. Pior; ela estava amando.
Sabia que o amor não era contado pelos sorrisos, sensações “fora-de-órbita” e mãos entrelaçadas, e sim pelas lágrimas que ousavam escapar dos seus olhos. Os mesmos que, no início, enxergaram o pôr-do-sol nos olhos dele. Eles continuavam lá, cintilando como sempre. Só existiam duas pequenas diferenças...
Agora, quando mirava um espelho e via os olhos dele refletidos nos seus, tudo que sentia era agonia. E, ainda agora, tudo que ela conseguia enxergar – depois de muito procurar por uma brincadeira, uma risada ou um deboche – quando fitava os olhos dele era uma fina, sutil e da cor do sol poente camada de esperança.
por Laís.
* Trecho da música “Into Your Arms”, da banda The Maine.
(Inspiração mais do que óbvia em Jane Austen.)
Distante e verossímil.
ResponderExcluirBom texto, afinal rs
Me pareceu bem desesperador o fato de ela sentir agonia. Não gostaria de estar na pele dela.
ResponderExcluirBem, esperança ainda é a última que morre.
Você gosta de Jane Austen?? Como assim? Eu não sabia disso!
ResponderExcluirA gente precisa sair pra conversar!! Que livros você já leu?
(soulouca.com.br)
;D
Ca-ram-ba.
ResponderExcluirNunca me vi tão refletida em um texto desde a fic que você fez pra mim.
Você tem um dom, mas não precisa de mim para te contar isso.
Cara, nada a declarar. Um dos melhores textos que eu já li, não sabia que você era tão foda assim Laís! Muito bom mesmo.
ResponderExcluir\Junior