I Am for the Nerds
Ilustríssimos, eis que retorno. Desta vez usarei minhas limitadas habilidades críticas para comentar uma obra vinculada à sétima arte. Sim, a arte do entretenimento audiovisual – os filmes. Muito provavelmente vocês devem estar se perguntando o que virá nas próximas linhas, uma vez que estamos inseridos no contexto da literatura dos óculos de fundo de garrafa e das ficções científicas. Inicialmente pode ser que venha à cabeça de vocês algo relacionado ao cult. Ou às explosões, aos lasers, ao sangue, aos robôs, às mulheres em roupas coladas, aos nossos queridos zumbis, à fantasia ou a qualquer coisa desse tipo. Mas eu digo que não. Farei diferente. Vou aproveitar a chance que me foi conferida na WLN para sugerir um filme que quebra diretamente o tabu exposto e nos leva para uma plataforma maior de reflexão. Não que eu seja o tipo de pessoa que não acha interessante ver filmes intensos de diretores diversos, só acho que Burton, Lucas e Cameron já estão batidos demais. Em suma, falarei de uma película que não é nem tão visceral nem tão complexa quanto as demais perpetuadas no cenário cinematográfico, mas que certamente pode ser considerada um clássico tão emocionante quanto tantos outros que já tivemos o prazer de contemplar (sim senhores, me senti um verdadeiro crítico de cinema nessas últimas linhas – com direito ao termo ‘visceral’).
Tratarei aqui de I Am Sam. Ou, adaptado maravilhosamente para o nosso português: Uma Lição de Amor. O filme se enquadra no gênero dramático, tendo sido dirigido pela diretora, roteirista e atriz Jessie Nelson (Corina, Uma Babá Perfeita – 1994).
Estrelando ninguém mais ninguém menos que a belíssima Dakota Fanning em seu primeiro grande trabalho para as telonas – com menos de dez anos de idade – seguida pelo magnífico Sean Penn e a brilhante Michelle Pfeiffer, o filme conta a história de um pai adulto portador de deficiências mentais que luta contra inúmeras adversidades para manter a guarda de sua querida filha, enfrentando tribunais, interrogatórios, entidades do Serviço Social e um universo burocrático colossal e maçante. Acompanhado por seus companheiros – também portadores de distúrbios psicológicos – Sam Dawson busca uma maneira de provar ao mundo que, mesmo tendo a idade mental de uma criança com cerca de sete anos de idade, ele pode ser um pai presente e extremamente afetuoso. Assim que Lucy (filha única de Sam, deixada sob sua responsabilidade no momento em que fora abandonado pela mulher) passa a desenvolver seu raciocínio e sua própria maneira de pensar – superando as capacidades cognitivas do próprio pai – o Serviço Social entra em cena e exige medidas drásticas contra a pequena família alegando que as condições mentais do Sr. Dawson o impedem de ser um bom pai para a garota. Aconselhado por seu grupo de amigos deficientes, Sam corre atrás de Rita Harrison, uma das melhores advogadas de Los Angeles, procurando por auxílio sólido contra a imensa burocracia que o separa de sua pequena filha, fadada aos cuidados das instituições públicas.
Olha, digo com toda a certeza do mundo que I Am Sam é um dos meus filmes favoritos. Além de abordar um tema tocante e extraordinário, a obra traz circunstâncias e dificuldades extremamente pesadas que dizem respeito ao cotidiano da grande maioria das pessoas da nossa sociedade, que, atarefadas e comprimidas por uma gama imensa de tarefas e obrigações que supera sua disponibilidade de tempo e sua própria capacidade, acabam deixando seus entes queridos de lado para poderem atender às necessidades e demandas do mercado de trabalho. Mostra-nos também como que a persistência, a sabedoria, a simplicidade e o amor podem mover barreiras quando aplicados no estilo de vida de cada um de nós com seriedade e dedicação. É impossível não se emocionar com I Am Sam. É impossível não se apegar às personagens ou não se sensibilizar com sua situação. A atuação fenomenal de toda a equipe de profissionais nos transporta rapidamente para dentro da realidade apresentada pela trama, colocando-nos a par de cada questão e mexendo com nosso interior de maneira que, ao final de cada cena, você se flagra realmente intrigado pelo que é colocado em questão no filme. Senti-me impotente perante a coragem e determinação de Sam. Fiquei realmente admirado pelo valor que o homem dá à sua filha, estando disposto a lutar até o fim, enfrentando seus próprios demônios e temores pelo carinho que tem pela garota, enquanto, sem desanimar, insiste em ajudar todos aqueles que se encontram ao seu redor em nome do que ele acredita ser a única coisa verdadeira e de algum significado no mundo: o amor. Seu senso de responsabilidade e sua persistência nos leva a refletir sobre nossas ações e convicções. Se a realidade já é suficientemente trabalhosa para nós, pessoas teoricamente normais e psicologicamente estáveis, tentem imaginar como deve ser o mundo para aquele que sofre de algum tipo de limitação, seja ela da natureza que for. Sam Dawson nos mostra como um ser humano deveria ser.
Além do drama temos a comédia, que se encaixa perfeitamente nos melhores momentos para quebrar a tensão que a história carrega. Desde Sam correndo pelas ruas de LA cercado por uma dezena de cachorros até as gafes embaraçosas cometidas por seus amigos em tribunal, a obra lhe garante boas risadas e uma intimidade marcante com todas as personagens. Tenho certeza de que qualquer um que esteja interessado em se divertir acompanhado de uma boa bacia de pipoca não vai se decepcionar.
Enfim, I Am Sam é daqueles filmes que você nunca esquece. Antes de falar sobre ele, pensei em diversos outros títulos poderosos, percorrendo minha mente desde as trilogias clássicas até os lançamentos mais recentes, e juro que antes de escrever procurei ao máximo evitar os filmes que focassem nesta questão sentimental, moral e tocante explorada por Nelson para que o texto não ficasse tão enfadonho (do tipo lição da vovó), mas acabei me entregando por saber que, indubitavelmente, I Am Sam ganhou destaque para mim – me marcou de verdade. Talvez a lição da vovó possa trazer para você uma verdadeira Lição de Amor.
a pessoa me começa o texto com "Ilustríssimos, eis que retorno." NÃO TEM COMO NÃO AMAR.
ResponderExcluirI love Lucy! I love this film!
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