10 de maio de 2011


Never Let Me Go

“Não é de se estranhar então que Não me Abandone Jamais soe como um vinil sujo e arranhado, repetindo um som que nos é proibido tirar da agulha.“ Li essa frase na resenha do Terra e achei uma observação muito feliz.
Quando entrei no cinema para assistir Never Let Me Go, não esperava encontrar o que acabei encontrando. Para te falar a verdade, a minha total falta de informação sobre o filme foi um dos fatores que fizeram a minha sessão ser uma experiência tão singular (os outros fatores envolvem coisas menos agradáveis, tipo o fato de eu estar sozinha no cinema com um velho que fungava em toda troca de legenda). A cada cena, descobria que o filme era cada vez menos o que eu esperava, e, por incrível que pareça, isso foi bom. Muito bom.


(A partir desse ponto, o post se divide em duas partes: a 1ª é para você que já viu o filme, ou não liga para um spoillerzinho ou outro e, além disso, tá afim de ler as minhas viagens sobre o filme. A 2ª é para você que quer ver o filme sem saber nada do enredo mas quer saber a minha humilde opinião sobre o elenco, o diretor, a trilha, etc)

1ª parte:

Como vocês devem saber, o filme é uma adaptação do livro homônimo do autor Kazuo Ishiguro e traz uma temática super inovadora: uma ficção científica no passado, mais precisamente, entre as décadas de 70 e 90. Tommy, Kathy e Ruth (Andrew Garfield, Carey Mulligan e Keira Knightley, respectivamente) cresceram juntos em um internato que prepara as crianças desde novinhas para uma missão muito bizarra, que é a de doar os próprios órgãos ainda em vida. Os 3 amigos crescem e se envolvem em um tipo de triângulo amoroso: Kathy e Tommy se gostam, mas ele acaba escolhendo Ruth, com quem namora um longo tempo. O tempo e as oportunidades que aparecem para cada um acabam separando os três amigos, que vão viver a espera da morte em lugares diferentes do internato onde cresceram. O tempo presente do filme é justamente o reencontro dos 3, sendo que Ruth e Tommy já doaram os primeiros órgãos e Kathy trabalha como acompanhante (uma espécie de enfermeira para os doadores).
Você deve estar pensando: “Caramba! Já entendi o porquê da comparação com o vinil arranhado”, mas não, você não entendeu ainda! O que faz o filme ser esse grande incômodo é a naturalidade e a resignação dos doadores quanto a essa condição. Nada é feito, não há rebeldia, revolta, gente virando mesas, nada! As poucas informações ou explicações sobre de onde eles vieram, quem são os tais “originais” em que se fala o filme todo ou de onde vêm os vários boatos que se ouve sobre o internato em que os protagonistas estudaram, só aumentam essa sensação de amargo na boca, a vontade de entrar na tela e dar uma sacudida nos personagens.
E quando você já estava começando a se questionar se levar um soco na cara é mais confortável do que ver aquele filme, vem o desfecho (e confirma o seu questionamento). As falas finais são da personagem Kathy e ela diz mais ou menos o seguinte: “não sei se as nossas vidas seriam muito diferentes do que foram se nós não fôssemos doadores”. Quando ouvi isso, meu mundo caiu. Depois de 103 minutos agonizando por causa da história, criticando os personagens por não fazerem nada, etc, você percebe que tudo aquilo poderia acontecer com você. Viver uma vida inteira sem viver, deixar as coisas simplesmente passarem... A única diferença é que eles viviam assim porque um dia alguém ia chegar e arrancar os órgãos deles. Mas eu não. E nem você.
Descobrir isso tão subitamente, ouvindo aquela vozinha da Carey Mulligan, não é nada confortável.


2ª parte:

Como adaptação, o filme parece ser propositalmente incompleto (não li o livro, mas dá pra dizer isso tranquilamente). A falta de explicações sobre alguns conceitos dá o tom de dúvida que o filme todo tem e foi essencial para criar a tal sensação de vinil arranhado que está na frase lá de cima. O diretor, Mark Romanek, é mais conhecido por seus documentários e clips musicais (entre eles, clips de Michael Jackson, Madonna, David Bowie, Janet Jackson e Red Hot Chili Peppers) e faz um trabalho bem digno em Never Let Me Go.
A fotografia é bem natural, mas não deixa de ser linda. As locações são maravilhosas, afinal, nada como um internado bem antigo e um campo de relva em frente ao mar, sendo tudo isso na Inglaterra.




A trilha é outra preciosidade desse filme. Assinada por Rachel Portman, a primeira mulher a ganhar uma estatueta do Oscar de melhor trilha sonora original, é de uma delicadeza ímpar e tem tudo a ver com a inocência e a amizade de Kathy, Ruth e Tommy. Além da trilha original, a música que dá nome ao longa, Never Let Me Go de Jane Monheit, é usada em duas ótimas cenas do filme. (A música do primeiro player é uma das 17 de composição de Rachel e a do segundo é “Never Let me Go”.)
Sou suspeita para falar, mas a melhor atuação realmente é de Carey, talvez por sua personagem ser a mais bem trabalhada dos três. Keira Knightley está bem, mas muito estranha pro meu gosto. Andrew Garfield a gente nem fala. Mentira, fala sim: puro amor e atuando bem (e com cabelo estranho, tive que falar).
Apesar de toda a esquisitice, o balanço é bem positivo e eu recomendo para todo mundo!

Beijo povo lindo do meu coração!
Até a próxima

9 comentários:

  1. Só aguçou minha vontade de assistir este filme.
    Vou no cinema amanhã, rs.

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  2. Já estava morrendo de vontade de assistir esse filme! Agora então! Hahaha. Parabéns Isa! Adorei o post *-*

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  3. Só vou ler amanhã, depois que tiver visto o filme. Rá.

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  4. Vi o filme e concordo! É sombrio mas muito bom.
    A trilha sonora é boa mesmo. E a relva em frente o mar é de uma fotografia muito bonita.
    Recomendo!

    Att.,
    Renato.

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  5. Já estava morrendo de vontade de assistir esse filme! Agora então! [2]

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  6. Filme absolutamente lindo. A atuação do Garfield, na minha opinião, é muito, muito boa. A da Carey (também sou suspeitíssimo pra falar) é bem digna de Oscar. E assistir esse filme sem ter NENHUMA informação sobre o desenrolar ou história, como também ocorreu no meu caso, faz com que o impacto que a história causa seja muito maior. Trilha sonora se encaixa bem em todos os momentos, e é uma das minhas favoritas. Compete pário à pário com, por exemplo Yann Tiersen, apesar dos estilos diferentes. A cena do final, com o discurso de dar água nos olhos que a personagem Kathy faz, juntamente com a música WE ALL COMPLETE, é motivo para dilacerar o coração e... rs

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  7. Adorei o post, mas ouso discordar da sua opinião em certos pontos.
    Achei o filme, embora delicado e bonito, muito arrastado, não senti agonia nenhuma, mas sim, tédio em algumas partes. Achei a frase final tocante e a atuação da Carey genial também, mas, não sei, esperava mais do filme.
    A fotografia é incrível e a trilha sonora, sutil, como pede o tema.
    O filme é, em geral, insatisfatório.

    Eu, a própria crítica de cinema, rs

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  8. Como eu disse no 1º comment deste post, fui no dia seguinte ao cinema e assisti o filme.
    Achei sombrio, mas muito bom.
    A trilha sonora é agradável e a cena da praia/relva/barquinho é bem bonita.
    Recomendo o filme!

    Att.,
    Renato.

    Ps.: deu pau no blog? Eu tinha postado isso já, rsrs

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  9. Nossa, Isa, seu post foi ao encontro da minha sensação... Parece que a gente viu o filme com um olhar parecido.
    Não posso deixar de ressaltar que também fiquei em agonia no cinema (e tinha uma mulher fungando do meu lado, de máscara ainda por cima,rs!)
    A trilha é realmente afiadíssima e a direção me provocou essa mesma sensação de "tem algo pendente".
    Muito legal esse seu post! Muito legal o filme!
    Só queria que tivessem traduzido o título de outra maneira, acho que "Não me abandone jamais" perde um pouco do "Never let me go".

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